Como surgiu a ideia do Lixo Zero Portugal?

No início de 2016 olhei literalmente para o meu caixote do lixo e pensei: Como é que é possível uma pessoa que é preocupada com o ambiente, produzir ainda tanto lixo?" Tinha muito lixo indiferenciado e embalagens de plástico. Pensei para mim mesma que a reciclagem não poderia ser suficiente, tinha que fazer mais! Comecei à procura de informação na internet e descobri o blog da Bea Johnson "Zero Waste Home". Comprei o livro dela e comecei a implementar todas as dicas nas várias áreas da minha casa e da minha vida. Como na altura não se falava do assunto em Portugal, resolvi começar a falar do assunto no meu blog e tentei criar uma comunidade Lixo Zero para unir todas as pessoas que estivessem a tentar viver da mesma forma do que eu, foi assim que nasceu o grupo de facebook com o mesmo nome. Na altura contactei também várias lojas para perceber onde poderia começar a fazer compras a granel. Esta informação deu depois origem ao site www.agranel.pt onde é possível consultar todas as lojas a granel em Portugal e também acrescentar novas lojas. (Foto: Tiago Martins)

O que é exatamente o Lixo Zero Portugal?
É o movimento que pretende divulgar o estilo de vida desperdício zero, baseado em 5 princípios, inspirados na Bea Johnson e que seguem exactamente esta ordem: recusar, reduzir, reutilizar, reciclar e decompor (rot) que é fazer a compostagem. Pretende-se reduzir ao máximo a quantidade de lixo que produzimos, sobretudo aquele que acaba no aterro ou é incinerado.

Ana Milhazes lucha contra o plástico

A Ana vive 100% livre de plástico? Se sim, desde quando?
Não, pois isso não seria possível. O plástico está em todo o lado, nas casas, nos carros, nos hospitais, etc. Não considero que o plástico seja um alvo a abater. O problema está na forma como usamos o plástico. Devido ao consumismo e ao preço tão baixo do plástico, começou a usar-se todo o plástico como se ele fosse descartável. Por questões de conveniência começamos a comprar tudo embalado! É este plástico que devemos eliminar das nossas vidas. Tentei eliminar todo o plástico descartável da minha vida e substituí por versões reutilizáveis, o caso dos sacos, talheres, copos de plástico, entre outros. Ainda tenho que utilizar algum plástico como é o caso da embalagem das lentes de contacto e do líquido para hidratar as lentes de contacto. Tudo o que consigo substituir por outras alternativas, substituo. E passei a fazer todas as minhas compras de alimentação em lojas a granel, onde uso os meus próprios sacos de tecido e frascos de vidro. (Foto: José Coelho/Lusa)

Ana Milhazes lucha contra o plástico

Acha que as pessoas estão cada vez mais conscientes sobre a vida e compras livres de plástico ?

Penso que sim. Os media têm contribuído bastante para isso, devido a todas as notícias que publicam sobre o impacto do plástico. Como há cada vez mais pessoas conscientes deste problema, são cada vez mais as pessoas que partilham dicas sobre um estilo de vida mais sustentável nas redes sociais. Desta forma, consegue-se perceber que é até bem simples adoptar práticas mais sustentáveis no nosso dia-a-dia. Não precisamos de ser radicais. O mais importante é também continuar a utilizar o que já temos, não precisamos de comprar coisas sustentáveis novas só porque agora queremos ter um estilo de vida mais sustentável. Devemos sim prolongar a vida útil de todas as coisas que já temos, mesmo que sejam de plástico. (Foto: José Coelho/Lusa)

Também criou um blog chamado Ana Go Slowly. Pode nos contar mais sobre isso?
Criei o blog Ana, Go Slowly em 2012, um ano depois de ter começado a viver um estilo de vida minimalista. Em 2011, percebi que não era feliz, apesar de ter tudo o que supostamente me faria feliz. Adorava a minha casa, o meu emprego, os meus amigos e família, mas sentia que os dias passavam a correr e que se repetiam... Resolvi começar a procurar informação sobre organização, como simplificar a minha vida... até que descobri um blog americano sobre minimalismo. Percebi que os minimalistas eram pessoas muito mais felizes, com menos coisas e menos preocupações. Percebi que queria o mesmo para mim! Comecei pela roupa e pelos sapatos, pois tinha imensas coisas a mais. Dei e vendi muita coisa. Já na altura tinha bastantes preocupações ambientais e tentei dar a quem realmente precisava. Fui depois passando a outras áreas da minha casa e a regra era sempre a mesma: ficar apenas com o que fosse essencial, com aquilo que usava e precisava mesmo! Passei depois a fazer o mesmo em relação aos compromissos e até a pessoas que estavam na minha vida. Passei a estar apenas com quem realmente gostava e a fazer aquilo que realmente era melhor para mim. Um ano depois decido criar o blog precisamente para partilhar todas as mudanças tão boas que estava a viver. Decidi dar o nome "Ana, Go Slowly" inspirada na frase do monge budista Thich Nhat Hanh "Smile, breathe and go slowly.”, pois sempre gostei de fazer tudo a correr e precisava de abrandar, de viver mais devagar e com mais qualidade. Foi também neste caminho que descobri o yoga e a meditação.

Ana Milhazes, pioneira no movimento de lixo zero em Portugal


Qual é o seu desejo pessoal para o futuro no nosso planeta?

Desejo que todas as pessoas defendam o planeta Terra como se fosse a sua casa porque na verdade o é! Só que nós ainda não percebemos isso. Vivemos demasiado concentrados nas nossas vidas e não percebemos que fazemos parte do todo! Somos todos um e fazemos todos parte do planeta Terra. Se percebermos isto tenho a certeza que todos iremos contribuir para que o planeta seja um lugar melhor.

Sabemos que dá aulas de yoga e meditação, usa materiais de suporte nessas aulas?
Utilizo sempre os blocos para sentar. às vezes trabalhamos com elásticos também. Por vezes gosto de levar livros com textos que leio durante o relaxamento ou no final da aula, como algo que fica no ar para que os alunos fiquem a reflectir no assunto.

Partilha/ introduz a ligação da yoga e da sustentabilidade/ consciência nas suas aulas?
Sim, sempre que posso. Acho que os dois estão ligados. Quando começamos a praticar yoga, começamos a ter consciência de que fazemos parte de algo maior e nesse sentido queremos proteger esse todo do qual fazemos parte. (Foto: Ana Milhazes)